Aquela fornece escudo para esta. Cada uma reforça as razões da outra. Em ambas, se desperta para a nacionalidade e
constrói-se a Nação. Defendido, o Brasil terá como dizer não, quando tiver que dizer não. Terá capacidade para construir
seu próprio modelo de desenvolvimento.
2.Difícil – e necessário – é para um País que pouco trato teve com guerras convencer-se da necessidade de
defender-se para poder construir-se. Não bastam, ainda que sejam proveitosos e até mesmo indispensáveis, os
argumentos que invocam as utilidades das tecnologias e dos conhecimentos da defesa para o desenvolvimento do País.
Os recursos demandados pela defesa exigem uma transformação de consciências para que se constitua uma estratégia
de defesa para o Brasil.
3.Difícil – e necessário – é para as Forças Armadas de um País tão pacífico como o Brasil manterem, em meio à
paz, o impulso de se prepararem para o combate e de cultivarem, em prol desse preparo, o hábito da transformação.
Disposição para mudar é o que a Nação está a exigir agora de seus marinheiros, soldados e aviadores. Não se
trata apenas de financiar e de equipar as Forças Armadas. Trata-se de transformá-las, para melhor defenderem o Brasil.
4.Projeto forte de defesa favorece projeto forte de desenvolvimento. Forte é o projeto de desenvolvimento que,
sejam quais forem suas demais orientações, se guie pelos seguintes princípios:
a) Independência nacional, efetivada pela mobilização de recursos físicos, econômicos e humanos, para o
investimento no potencial produtivo do País. Aproveitar a poupança estrangeira, sem dela depender;
b) Independência nacional, alcançada pela capacitação tecnológica autônoma, inclusive nos estratégicos setores
espacial, cibernético e nuclear. Não é independente quem não tem o domínio das tecnologias sensíveis, tanto para a
defesa como para o desenvolvimento; e
c) Independência nacional, assegurada pela democratização de oportunidades educativas e econômicas e pelas
oportunidades para ampliar a participação popular nos processos decisórios da vida política e econômica do País. O
Brasil não será independente enquanto faltar para parcela do seu povo condições para aprender, trabalhar e produzir.
Natureza e âmbito da Estratégia Nacional de Defesa
1.A Estratégia Nacional de Defesa é o vínculo entre o conceito e a política de independência nacional, de um lado,
e as Forças Armadas para resguardar essa independência, de outro. Trata de questões políticas e institucionais decisivas
para a defesa do País, como os objetivos da sua “grande estratégia” e os meios para fazer com que a Nação participe da
defesa. Aborda, também, problemas propriamente militares, derivados da influência dessa “grande estratégia” na
orientação e nas práticas operacionais das três Forças.
A Estratégia Nacional de Defesa será complementada por planos para a paz e para a guerra, concebidos para
fazer frente a diferentes hipóteses de emprego.
2.A Estratégia Nacional de Defesa organiza-se em torno de três eixos estruturantes.
O primeiro eixo estruturante diz respeito a como as Forças Armadas devem-se organizar e orientar para melhor
desempenharem sua destinação constitucional e suas atribuições na paz e na guerra. Enumeram-se diretrizes
estratégicas relativas a cada uma das Forças e especifica-se a relação que deve prevalecer entre elas. Descreve-se a
maneira de transformar tais diretrizes em práticas e capacitações operacionais e propõe-se a linha de evolução
tecnológica necessária para assegurar que se concretizem.
A análise das hipóteses de emprego das Forças Armadas - para resguardar o espaço aéreo, o território e as águas
jurisdicionais brasileiras - permite dar foco mais preciso às diretrizes estratégicas. Nenhuma análise de hipóteses de
emprego pode, porém, desconsiderar as ameaças do futuro. Por isso mesmo, as diretrizes estratégicas e as
capacitações operacionais precisam transcender o horizonte imediato que a experiência e o entendimento de hoje
permitem descortinar.
Ao lado da destinação constitucional, das atribuições, da cultura, dos costumes e das competências próprias de
cada Força e da maneira de sistematizá-las em estratégia de defesa integrada, aborda-se o papel de três setores
decisivos para a defesa nacional: o espacial, o cibernético e o nuclear. Descreve-se como as três Forças devem operar
em rede - entre si e em ligação com o monitoramento do território, do espaço aéreo e das águas jurisdicionais
brasileiras.
O segundo eixo estruturante refere-se à reorganização da indústria nacional de material de defesa, para assegurar
que o atendimento das necessidades de equipamento das Forças Armadas apóie-se em tecnologias sob domínio
nacional.